domingo, 8 de março de 2009

FERNANDO SARNEY PAGA MESADA DAS FILHAS COM CAIXA 2 DA MIRANTE

Fernando usou Caixa 2 da Mirante até para pagar “mesada” das filhas
Por: Oswaldo Viviani
Data de Publicação: 8 de março de 2009


A ‘ala jovem’ feminina da oligarquia recebeu de R$ 4 mil a R$ 24 mil mensais, de 2006 a 2008, a título de ‘mesada’; as quantias não foram declaradas ao Fisco

No bojo das investigações (Operação Boi Barrica) que apontaram o superintendente do Sistema Mirante, Fernando José Macieira Sarney, como chefe de uma organização criminosa (ORCRIM) com tentáculos atuantes em órgãos federais estratégicos – e que resultaram no pedido de sua prisão e de mais de uma dezena de pessoas no ano passado –, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal descobriram um rosário de crimes cometidos pelo “esquema Fernando”, que vão da formação de quadrilha à fraude em licitações, passando por tráfico de influência e evasão de divisas, entre outros ilícitos. Mas a PF e o MPF dirigiram seu foco investigativo especialmente para os golpes da ORCRIM contra o sistema financeiro nacional.

Bastou os órgãos investigativos botarem os olhos na forma como atuam as três empresas do Grupo Mirante – TV Mirante, Gráfica Escolar e São Luís Factoring – para terem certeza de que Fernando e sua mulher e sócia Teresa Cristina Murad Sarney criaram um imenso “Caixa 2” no Sistema Mirante, alimentado pelas operações escusas entabuladas por esse trio de empresas.

Em meio às várias irregularidades descobertas pela PF e pelo MPF, advindas dessa engenharia financeira marginal – como suspeita de financiamento ilegal de campanha eleitoral, lavagem de dinheiro e sonegação de impostos –, consta até mesmo o pagamento de “mesadas” às filhas de Fernando Sarney.

‘Mesadas’ vultosas – De acordo com o que foi apurado em “grampos” da PF, realizados com autorização judicial, boa parte da “ala jovem” feminina da oligarquia – Ana Clara Murad Sarney; Paula Renata Pessoa de Torres Câmara Araújo Sarney; Maria Beatriz Brandão Cavalcanti Sarney, a “Bia”; Ana Theresa Sarney, a “Teca”; e Maria Adriana Sarney – recebeu altas somas de dinheiro (de R$ 4 mil a R$ 24 mil mensais), entre 2006 e 2008, a título de “mesada” (veja diálogos nos textos em destaque).

Os pagamentos foram feitos por Luzia de Jesus Campos de Sousa – responsável pela área administrativa da Mirante e que também administra a São Luís Factoring, uma empresa sem nenhum funcionário e que só trabalha com o grupo Mirante.

Para a PF e o MPF, Luzia Campos de Sousa tem conhecimento e participa das atividades ilícitas do “esquema Fernando”. Os investigadores descobriram que ela usou uma irmã – Maria Raimunda Campos Barbosa – como “laranja” do grupo. Moradora de uma casa simples num dos bairros mais pobres de São Luís, a Cidade Operária, Maria Raimunda foi beneficiada com 23 cheques nominais da São Luís Factoring, totalizando mais de R$ 350 mil, todos sacados em espécie na boca do caixa do Bradesco (agência 1037, São Francisco).

Dinheiro não declarado – A dinheirama distribuída às filhas de Fernando Sarney pode ter servido apenas para suprir a vida nababesca que as meninas levam em São Luís e outros cantos “descolados” do país, mas os órgãos investigativos desconfiam de que a família toda participa de um esquema para driblar o Fisco e as leis financeiras brasileiras. Eis o que os delegados federais Márcio Adriano Anselmo e Thiago Monjardim Santos concluíram nessa parte do inquérito (páginas 36 e 37) sobre o “caso Fernando”, ao qual o Jornal Pequeno teve acesso:

“Observa-se que a São Luís Factoring serve também como um grande caixa para as movimentações pessoais de membros da família [Sarney]. Vale frisar que Fernando Sarney se utiliza de Luzia de Jesus Campos de Sousa para fazer pagamentos para os filhos. (...) Cabe mencionar que todos tiveram o sigilo fiscal e bancário quebrados e foi constatada movimentação, por exemplo, de Paula Renata [Pessoa de Torres Câmara Araújo Sarney], em que pese tenha apresentado Declaração Anual de Isento, em 2006, a mesma movimentou [nesse ano] quase R$ 150 mil, chegando a movimentar em conta corrente, num só mês, mais de R$ 24 mil. No que tange a Fernando Sarney, não há em suas DIRPF [Declaração de Imposto de Renda de Pessoa Física] declaração dos mesmos [filhos] como seus dependentes.”

Relata, ainda, o inquérito da PF (página 37):

“Foi monitorada mensagem de correio eletrônico entre Ana Clara Murad Sarney e Tetê [Teresa Cristina Murad Sarney, sua mãe], tendo como anexo o pedido de movimentação de valores no exterior, que monta a quantia de 1 milhão de dólares [The Hongkong and Shanghai Banking, em Qingdao, China]. Vale ressaltar que os dias que antecederam tal troca de mensagens foram marcados por várias ligações entre Fernando, Tetê e Ana Clara, com o objetivo de localizar algum documento num dos cofres da casa deles, em São Luís, uma vez que Tetê estava em São Paulo.”

Filha cúmplice – Nas páginas 38 e 39, a PF prossegue:

“Assim, percebe-se que Teresa Murad e Fernando Sarney gerenciam os negócios da família em São Luís, sendo que a filha Ana Clara participa ativamente das atividades ilícitas da família. A título de exemplo, a mesma foi incluída no quadro societário da São Luís Factoring.”(...)

“No contato com o empresário Paulo Guimarães, fica evidente a participação de Ana Clara nas atividades de seus pais. Inicialmente, Fernando Sarney, em diálogo com Paulo Guimarães, fala sobre negócios, acertam se comunicar por mensagem de texto e Fernando acha melhor que Paulo mande a mensagem para outra pessoa. Posteriormente Fernando liga para Ângela, sua secretária, e pede para que a mesma entre em contato com Paulo, dizendo ao mesmo que encaminhe mensagem para sua filha Ana Clara. Por fim, Fernando liga para Ana Clara avisando a mesma [diz que Paulo está tratando ‘daquele negócio’ para eles]. Ana Clara recebe as mensagens transcritas, as quais, embora cifradas, denotam, pela situação em si, não tratar-se de algo lícito, até pela maneira como buscaram se evadir.”

Veja o teor das mensagens trocadas entre Ana Clara e Paulo Guimarães e conversas “grampeadas” entre Luzia de Jesus Campos de Sousa e algumas das filhas de Fernando Sarney, que comprovam que elas movimentam grandes quantias, não declaradas, de dinheiro – oriundas, segundo a PF do “Caixa 2” do Sistema Mirante.

conversas grampeadas pela polícia federal

Troca de mensagens entre Ana Clara e Paulo Guimarães, em 4 de março de 2008

PAULO GUIMARÃES: Você quer receber aí no Rural na próxima semana ou junto aqui e até a próxima semana pega aqui tudo de uma vez, você que escolhe.

ANA CLARA: Como seria essa entrega aqui? Quem pegaria? Como seria feito?

PAULO GUIMARÃES: Duas carradas de leite Ninho e duas de Pelargon preços da Nestlé com nota fiscal do distribuidor do Piauí, você arranja quem pega aí.

Diálogo entre Luzia Campos de Sousa e Fernando Sarney (1º/2/08)

RESUMO: LUZIA diz para FERNANDO que já depositou R$ 2 mil na conta da filha dele (Paula Renata) e que ela ligou pedindo mais R$ 600 para pagar abadás do carnaval de Salvador. FERNANDO diz para LUZIA fazer jogo duro. LUZIA diz que colocou o dinheiro das outras filhas de FERNANDO na conta e que colocou o dinheiro da esposa dele no HSBC certinho.

Diálogo entre Luzia e Paula Renata Pessoa de Torres Câmara Araújo Sarney (19/2/2008)

RESUMO: Paula Renata fala que o pai autorizou pagar a faculdade. Luzia diz que pagou R$ 4 mil de “mesada” a Paula Renata.

PAULA RENATA: Acabei de falar com meu pai e ele falou que vai autorizar-te a fazer o depósito, porém eu estava conversando agora com o pessoal do Financeiro (...) é o seguinte: noite, 756, aí tem que pagar janeiro e fevereiro, aí março você já sabe que é 756 também, tá?

LUZIA: Tá, agora deixa eu te dizer, falaste com teu pai como é que fica a partir de março? Porque eu tinha incorporado, era R$ 4 mil que eu mandava pra ti, aí eu incorporei 650, que era a faculdade.

PAULA RENATA: Bota mais 100.

LUZIA: Ah, tá. Então é só botar mais 100.

PAULA RENATA: Ou então vamos fingir para ele [FERNANDO] que esses 650 você já me dava e vamos pedir mais 756.

LUZIA: Se tu pedir para ele e ele não me perguntar, porque ele sabe da época que eu incorporei...

PAULA RENATA: Tu pode esquecer, Luzia, não lembra ele... Qualquer coisa em março você coloca 100 reais a mais porque a mensalidade aumentou. Você consegue me mandar isso amanhã?

LUZIA: Eu vou falar com ele de manhã e já mando amanhã.

PAULA RENATA: É duas vezes de 756 e em março 100 reais a mais.

LUZIA: Tá.

Diálogo entre Luzia e Maria Beatriz Brandão Cavalcanti Sarney, a “Bia” (25/1/2008)

RESUMO: LUZIA diz que depositou R$ 10 mil na conta de ‘BIA’

Diálogo entre Luzia e Maria Beatriz, a “Bia” (26/2/2008)

RESUMO: “BIA” pede para LUZIA depositar R$ 3.100 na conta dela. “BIA” diz que o FERNANDO depois irá autorizá-la.

Diálogo entre Luzia e Ângela, secretária de Fernando Sarney (1º/3/2008)

RESUMO: ÂNGELA fala para LUZIA que DONA TERESA [MURAD SARNEY] mandou faturar tarifa aérea para MARIA ADRIANA [SARNEY] pela Mirante.

Diálogo entre Luzia e Ana Theresa Sarney, a “Teca” (3/3/2008)

RESUMO: “TECA” pede R$ 700 a mais na sua “mesada” para pagar um tratamento estético.

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