segunda-feira, 2 de março de 2009

Escândalos do clã Sarney voltam a atrair imprensa

Escândalos do clã Sarney voltam a atrair imprensa


Data de Publicação: 1 de março de 2009
POR OSWALDO VIVIANI - JORNAL PEQUENO

‘FEVEREIRO do desgosto’

Nunca o nome de José Sarney - e de membros destacados de sua família - estiveram tão expostos, de forma negativa, na mídia nacional e internacional
O mês de fevereiro, encerrado ontem, marcou a volta de José Sarney (PMDB-AP) à presidência do Senado - numa conquista festejada com intensidade pelo clã chefiado pelo último coronel do Brasil -, mas fevereiro também foi o mês do desgosto para Sarney. Nunca seu nome - e de outros membros destacados de sua família - estiveram tão expostos, de forma negativa, na mídia nacional e internacional.
O "fevereiro do desgosto" do oligarca começou apenas quatro dias depois de sua eleição, quando a conceituada revista inglesa "The Economist" foi às bancas chamando Sarney de "dinossauro" e representante do "semifeudalismo" político. No rastro da matéria da "Economist", veio uma enxurrada de reportagens sobre as falcatruas da família Sarney. Os jornais "O Estado de S. Paulo" e "Folha de S. Paulo" e as revistas "Veja" e "Caros Amigos" foram algumas das publicações que chamuscaram ainda mais a imagem de Sarney e o desacomodaram do lugar que ele mais gosta de ocupar - o de influente iminência parda do poder, uma espécie de Rasputin* tupiniquim. Veja a seguir o resumo de algumas matérias que fizeram o inferno astral de José Sarney em fevereiro.
Sarney, o dinossauro - No dia 6 de fevereiro chegou às bancas de todo o mundo a revista inglesa "The Economist" - uma publicação com tradição de 175 anos -, trazendo uma reportagem que classificou a eleição de José Sarney à presidência do Senado, em 2 de fevereiro, de "vitória do semifeudalismo".
A reportagem, intitulada "Onde os dinossauros ainda vagam" ("Where dinosaurs still roam") - de autoria do jornalista John Prideaux, que esteve durante uma semana no Maranhão, colhendo informações sobre José Sarney -afirmou que talvez fosse "hora de (Sarney) se aposentar". "Sarney pode parecer um regresso a uma era de políticas semifeudais que ainda prevalecem em alguns cantos do Brasil e puxam o resto dele para trás. Mas, com o apoio tácito de Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente de centro-esquerda do país, ele foi escolhido para presidir o Senado", relatou a revista, entre outras coisas.
Sarney mandou uma resposta à revista, naturalmente discordando de tudo o que foi escrito a acenando com uma ação judicial. Fiel a seu estilo coronelista e intimidatório, em vez de simplesmente encaminhar a resposta, sem intermediários, ele pagou 3.500 dólares (perto de R$ 8 mil) para um advogado inglês exercer o papel de mensageiro.
Conversa 'de pai para filho' - Um dia depois da devastação causada pela "The Economist", foi a vez dos jornais "O Estado de São Paulo" e "Folha de S. Paulo" infernizarem a vida do oligarca. As duas publicações trouxeram à tona pela primeira vez um diálogo entre José Sarney e seu filho Fernando Sarney - superintendente do Sistema Mirante.
Na conversa, de 3 minutos e 32 segundos, ocorrida no dia 17 de abril do ano passado, o presidente do Senado pergunta ao filho se ele havia recebido informações da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) sobre um processo judicial envolvendo Fernando que corre em sigilo. Fernando pergunta ao pai se há alguma novidade sobre "aquele meu negócio". Sarney responde: "Não, até agora não me deram nada." Fernando prossegue: "Muito bem, mas eu aqui já tive notícia, aqui do Banco da Amazônia." O senador pergunta: "É, né? Da Abin?" E o filho responde: "Também."
Entre outros ilícitos, o filho de Sarney é investigado pela PF ("Operação Boi Barrica") por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, tráfico de influência, fraude em licitações e envolvimento no financiamento ilegal na campanha eleitoral de sua irmã Roseana Sarney, candidata derrotada a governadora em 2006. Fernando sacou R$ 2 milhões da conta da Mirante nos dias 25 e 26 de outubro de 2006, três dias antes do segundo turno das eleições.
O "Estadão" e a "Folha" informaram, ainda, que o "grampo" da PF também flagrou José Sarney e Fernando usando a TV Mirante para atacar um adversário político - o que é crime, pois as TVs brasileiras são concessões públicas e a lei 4.117/62 proíbe seu uso para fins políticos. Sarney manda Fernando "botar na TV [Mirante]" uma matéria para atingir Aderson Lago, atual chefe da Casa Civil do governo Jackson Lago, e seu filho, Aderson Neto. A reportagem trataria de um suposto desvio de recursos públicos de convênios firmados entre a prefeitura de Caxias e o governo estadual.
José Sarney sentiu o golpe - e revelou a mais de um interlocutor seu desconforto com o vazamento do diálogo -, mas minimizou o teor do "grampo", dizendo se tratar apenas de uma banal "conversa de pai para filho". O áudio completo do "papinho" familiar foi parar no YouTube (veja reprodução no texto em destaque).
‘CONVERSA DE PAI PARA FILHO’
JOSÉ SARNEY - Meu filho, esse negócio que eu li hoje do filho do Aderson Lago e do Aderson Lago, esse sujeito foi muito cruel com a gente, com todos nós, com Roseana, comigo, escreveu aquele artigo outro dia me insultando de uma maneira brutal, vamos botar isso na televisão..
FERNANDO SARNEY - Sim, calma, não sei por que essa pressa, desde o começo conseguimos o documento, tamos fazendo construtivamente, tamos construindo a coisa legal, da forma como deve ser feita.
JS - Eu hoje, eu vi no Walter Rodrigues [blog do jornalista Walter Rodrigues], ele...
FS - Viu, não. Foi vazado propositadamente pra isso mesmo...
JS - Põe na televisão, manda botar o destino do dinheiro recebido, foi parar em tal, tal, tal...
FS - Tá bom, o cara da Globo já está aqui, desde segunda-feira, e estamos trabalhando isso, tá?
JS - Falou isso com ele?
FS - Falei, falei com ele, mostrei tudo, mostrei tudo, vai dar certo. Mas calma, calma, não precisa pressa, não precisa pressão.
JS - Não é pressão, não, rapaz. Eu tô...
FS - É que esse é um assunto que eu peguei desde o começo, eu consegui, passei pro Sérgio*, tamos soltando no jornal pouco a pouco, a vazada foi proposital, é isso mesmo, calma...
JS - Pois é. Eu vi hoje o resultado foi no blog do Walter Rodrigues.
FS - Sim, meu pai, foi proposital, pra dividir a responsabilidade, essa coisa toda...
JS - Tá bom.
FS - Tá certo? O foco é fazer isso que você tá falando aí...
JS - Tá bom.
FS - Olha aqui... E aquele meu negócio, alguma novidade?
JS - Não. Até agora ainda não me deram nada.
FS - Muito bem, mas eu aqui já tive notícias do Banco da Amazônia, tá?
JS - É, né?
FS - É.
JS - Da Abin?
FS - Também.
JS - Tá bom.
FS - Tá? Formal, na semana passada chegou. É sinal que tão mexendo... Mas o daqui é sem origem...
JS - (???)
FS - Não, daqui é o juiz da 1ª Vara.
JS - Então, manda ver o processo aí.
FS - Já mandei. Já chamei o Marcelo, já mandei ver.
JS - Porque o menino me disse que já mandou pro Marcelo tudo, pra o Marcelo olhar o processo...
FS - Já, já mandou e já viu tudo.
JS - E o que é que tem. É (???)
FS - É, isso é em off. Mas eu agora mandei ver o documento formal pra que eu possa entrar na internet e ver do que se trata (...) Foi em off, foi hoje de manhã que chegou a informação, e eu tô agora concluindo ela...
JS - Mas o menino me disse ontem...
FS - Ah, já vi o processo todo. Eu chamei ele hoje de manhã e ele me contou tudo...
JS - E não é esse o processo que está lá?
FS - Não, tem algumas coisas lá, algumas quebras de sigilo adicionais que não têm informações suficientes.
JS - Tá bom.
FS - Eu mandei averiguar.
JS - Tá.
FS - Olha, esse negócio aí que tu falastes antes [assunto do Aderson Lago], é isso aí, eu tô fazendo isso, tá bom?
JS - Tá Bom. OK. Um abraço.
FS - Tá. Beijo.

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