sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Vai, Lula, continue a sujar as mãos

Vai, Lula, continue a sujar as mãos! Ou: a Petrobras como cabo eleitoral e pretexto para o discurso vigarista

Atenção! O primeiro turno das eleições aconteceu no dia 3 de outubro. Hoje é dia 29. Em 26 dias, Lula participou de nada menos do que cinco eventos na Petrobras, um a cada cinco dias. Ontem, lançou a nova Plataforma de Tupi. E voltou a sujar as mãos de petróleo. Num dado momento, quase lambeu o óleo.

Hoje, a Agência Nacional de Petróleo faz mais um de seus anúncios estrepitosos, pré-anunciado ontem. O campo de libra, no pré-sal da bacia de Santos, teria entre 7,9 bilhões e 16 bilhões de barris. É isso mesmo: dois dias antes da eleição se anuncia uma, atenção!, POSSÍVEL nova “megahipersupermegalo-reserva”, que pode ter “x” ou “2x”, um tanto de petróleo ou o dobro. As condições do anúncio mal escondem o seu caráter obviamente eleitoreiro. Até o presidente da empresa, o petista José Sérgio Gabrielli, usa a Petrobras para fazer campanha eleitoral aberta, acusando, o que é mentira, o governo FHC de ter sucateado a Petrobras.

No governo tucano, a produção de petróleo no Brasil cresceu 100%: de 700 mil barris/dia para 1,4 milhão de barris/dia. Hoje, está em torno de 2,1 milhões/dia: crescimento de 50% no governo do PT. Vamos ver se Gabrielli desmente. A quase autonomia a que se chegou — a anunciada por Lula é falsa — se deveu à abertura do setor ao regime de concessão então implementado, que contribuiu para que a empresa avançasse na pesquisa do pré-sal — que não começou a ser pesquisado a partir de 2003, como dá a entender a máquina de propaganda.

No entanto, a falsa questão da Petrobras e do pré-sal virou o cavalo-de-batalha do horário eleitoral de Dilma Rousseff, naquela que é a mais mentirosa das campanhas eleitorais de que tenho notícia. Ontem, eles atingiram o estado da arte da empulhação. Vamos ver.

O PT acusa Serra de querer “privatizar o pré-sal” porque, diz, quem implementou o regime de concessões foi o PSDB — e, para o PT, concessão é privatização. Trata-se de uma afirmação escandalosamente falsa. O PSDB contra-atacou: se concessão é privatização, então quem mais privatizou foi Dilma, cujo governo, e ela própria como responsável pela área de energia, fez 108 concessões — o que é fato —, mais do que no governo FHC. Nota à margem: não gosto dessa resposta porque acho que ela endossa a mentira da equação “concessão = privatização”. Bem, mas os petistas também não gostaram.

A pilantragem
Em seu horário eleitoral de ontem, fizeram o quê? Em primeiro lugar, mentiram ao afirmar que, depois da “descoberta” do pré-sal, não fizeram mais concessões. Fizeram, sim! Mas o maravilhoso da história não está aí, não. Afirmou-se que as concessões foram vantajosas para o Brasil porque o risco é das empresas que venceram os leilões, e o benefício é do Brasil!

Bingo!!! É por isso que a concessão é uma boa, entenderam? Notem que, para se defender, o PT quase consegue falar uma verdade. O que a muitos escapa até agora é que a cascata nacionalista do “regime de partilha” é o sonho das empresas que forem contratadas para operar no pré-sal. Arranque-se ou não óleo lá das profundezas, elas terão o seu dinheiro certo. E fim de papo. Os riscos são todos do Brasil. O que o horário eleitoral de Dilma não explicou e o que ela não saberia explicar é por que, então, a concessão não funcionaria no pré-sal. Aí a boneca de ventríloquo se sai com aquele papo de “bilhete premiado”. “Bilhete premiado uma ova!” O petróleo do pré-sal, como se nota, pode ser “x” ou “2x”, mas também pode ser “x/2″, “x/3″, ninguém sabe direito.

Empresa pra ir fazendo buraco, com certeza, o regime de partilha vai atrair. A questão é se atrairá investimentos. Há um monte de gente que prefere a incerteza sobre o petróleo à certeza de que vai ter de enfrentar um governo de burocratas que, cedo ou tarde, se torna uma máquina de corrupção e instabilidade nas regras. Mas volto ao ponto.

A “concessão”, que seria defendida por Serra — e ele nem atacou o regime de partilha, note-se — seria “privatização”. Já a mesma concessão, operada pelo PT, seria uma forma de, havendo petróleo, todo mundo ganhar; não havendo, o Brasil não ter prejuízo. Covenham: é preciso muita vigarice para levar um troço desses ao ar. E eles levam. Ninguém lhes cobrará nada a respeito.

Vai, Lula, continue a sujar as mãos!

Por Reinaldo Azevedo

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